Nem tudo são rosas quando se fala de educação e da relação pais/filhos. As pensarias e peripécias do Tomé que por aqui vou contando são normalmente ternurentas, emocionantes e/ou divertidas.
O assunto hoje é mais sério e o desafio, para nós pais, e para o Tomé enquanto ser humano consciente, foi enorme!
A professora alertou-nos para o facto do comportamento do Tomé estar a ser muito desafiante, para o facto de andar a bater nos miúdos mais pequenos nos jogos de futebol e por se ter desentendido com uma colega de sala. Já tinha falado com ele e a promessa de alterar o comportamento foi feita à professora pelo próprio Tomé. A nossa missão seria… não fazer rigorosamente nada e esperar por mais notícias.
Ficámos de rastos. O nosso menino não batia nos mais pequenos. O nosso menino era capaz de compaixão.
No dia seguinte o Tomé, em choro, conta-nos tudo sobre a paciência que os pequenos lhe roubam porque interferem nos jogos de futebol, atribuindo-lhes a culpa do seu descontrolo…
Lemos o seu pedido de ajuda. Conversámos muito. O momento de viragem do seu processo mental de atribuição de culpas aos outros aconteceu quando lhe fiz a dramatização de um menino pequeno a chegar a casa e a contar a chorar à mãe que não queria ir à escola, que lhe batiam, que havia uma menino mau na escola… E que se chamava Tomé!
Terminámos a conversa com a sua promessa de que já estava a mudar e que ainda ia melhorar. Combinámos que iríamos à escola falar com a professora.
Ela contou-nos que na discussão semanal dos “problemas” da sala, chamado conselho de turma, ele tinha sido exposto. E acusado dos seu vários comportamentos. Chorou e lavou a alma.
Uns dias depois entra no carro e diz que o seu comportamento está muito melhor. “Está quase bom…”
CATARINA – Porque dizes isso?
TOMÉ – Perguntei à professora!
Preocupou-se e resolveu mudar. O controlo da raiva é uma das ferramentas mais valiosas que alguém pode ter. E difícil de alcançar. Partilha connosco que está a “passar um mau momento” mas que sabe que vai conseguir ultrapassar.
No último Domingo ficámos em casa apenas os dois. Pedi-lhe para irmos almoçar fora. Insistiu que ficássemos em casa. Como lhe expliquei que não me apetecia fazer almoço, ofereceu-se de imediato para o fazer comigo. Eu insisti para irmos para a rua, explicando que na minha opinião ele queria ficar colado à televisão e aos jogos. Garantiu-me que não. E ficámos por casa.
Respondemos à carta da filosofia que estava em atraso, montámos tendas no quarto, fizemos o almoço, limpámos a cozinha, montámos tendas na sala, rimos muito, demos muitos abraços, mais de mil beijos, vimos um filme e conversámos durante horas…
CATARINA – Como está a tua paciência com os meninos mais pequenos?
TOMÉ – Não lhes bato, mas ainda me enervam…
CATARINA – E fazes como te ensinei? Vais beber água, respiras fundo ou vais falar com alguém que te ajude a acalmar?
TOMÉ – Não! Viro-me de costas e expludo baixinho! Mas até já sou amigo de um deles. Um que joga muito bem! E na sala já estou eu outra vez! Com a L. até já tive uma conversa muito interessante…
CATARINA – Ainda bem que falaste connosco sobre esse problema…
TOMÉ – Tinha de falar. Estava a passar um mau bocado e precisava de ajuda. Senti que ia perder todos os meus amigos.
A consciência total dos seus actos. Desde o momento que bate nos pequenos que supostamente devia proteger até ao momento em que pede a nossa ajuda.
Não tenho uma explicação para este momento menos bom que aconteceu na vida do Tomé, mas sei que ele o está a conseguir ultrapassar. Prova superada.
À noite na cama.
CATARINA – Adorei termos passado o dia juntos.
TOMÉ – Eu acho que foi um dia mesmo especial… Fazia-nos mesmo falta estarmos assim juntinhos!
Foi com amor que tentámos ajudar o nosso filho. Foi com amor que falámos com ele. É com amor que ele está a responder.
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